sábado, 14 de julho de 2012

Quase Normal


Teatro lotado e ansiedade para assistir Quase Normal, que teve ontem estreia para convidados no Teatro Clara Nunes. Graças à uma promoção do Mr. Zieg fui contemplado com um par de ingressos para este dia.

Eu não tinha muita intimidade com Next to Normal. Tratei de procurar alguns vídeos e ouvir a trilha sonora da montagem original. Fiquei apaixonado. Uma composição genial.

O espetáculo é uma necessidade pública. Toca o assunto dos conflitos da psique humana, que doem na alma e que podem levar à loucura. Loucura. A linha tênue que podemos ultrapassar por qualquer descuido com a gente mesmo. Diana Goodman vive esse conflito. Sofre esse distúrbio.

Eu tenho depressão. Estar face a face com aquela mulher, com a sua família, com os seus dilemas e seus desejos trouxe, inevitavelmente, reflexos de minha própria vida. A depressão (e talvez a loucura) é a negação do aqui. O pânico do agora. O presente dói. Então se refugia no passado, num hedonismo do que virá ou em delírios.

Mas o espetáculo nos toca sem machucar. A montagem distancia o suficiente para não entrarmos na onda de Diana. Ela não é a única ali. Há o seu marido, Daniel, como um equilibrista de pratos, usando dos métodos que lhe convém para manter algum tipo de paz. A filha, Natalie, ferida, artista (a arte é um refúgio, não?), buscando o seu próprio espaço num mundo de renegações. Henry, um alívio, uma luz, para Natalie, e para o público. E Gabriel. O filho preferido, primogênito, um anjo, mas da vida ou da morte? Há ainda os psiquiatras de Diana representando a medicina, a psicologia e a indústria farmacêutica.

As versões em português de Tadeu Aguiar variam. Há momentos em que não há métrica e percebe-se uma tentativa de manter a ideia original da letra em inglês. Mas a grande parte das versões está bem adaptada e criativa, mantendo o sumo da canção. Tadeu Aguiar também dirigiu e consegue manter um belo trabalho de atores, mas talvez ainda não tenha o ritmo certo da encenação. Acredito que em poucas performances isso se acerte e veremos o palco em chamas!

Ah, os atores. Vanessa Gerbelli merece todos os aplausos. Um trabalho belíssimo. Ela domina a montanha-russa de emoções que é a sua personagem. E canta com todas as sutilezas que uma pessoa bipolar emprega às palavras. Há dor, há sonho, há explosão, há afago. Cristiano Gualda emociona com o seu marido devotado mas hesitante, que não enfrentou os próprios demônios mas espera tirar a esposa de seu inferno pessoal. Eu só o tinha assistido em Beatles e em Oui oui, e fiquei muito feliz de vê-lo nesta peça de alto teor dramático. Bravo!

Olavo Cavalheiro com uma voz e um olhar penetrantes. Não sei quantos anos ele tem, mas tenho certeza de que terá uma carreira longa e brilhante. Carolina Futuro personaliza a carência de todos os personagens mas ainda tem esperança, pelo menos no próprio destino. Sua Natalie por vezes repete gestos e expressões, acho que pode encontrar mais nuances para enriquecer a cena.

Victor Maia traz uma cor que os outros personagens não emanam e nos dá esperança de que algum sorriso ingênuo, sem mágoas, pode surgir na casa dessa família. Em alguns momentos essa cor destoa demais da palheta dos Goodman. Mas pode ser proposital e eu é que estou sendo chato. E também posso não ter compreendido o André Dias. Eu adoro ele! Mas não consegui diferenciar os seus Dr. Finne e Dr. Madden.

Figurinos e cenários em perfeita harmonia com a cena, bravo. O som falhou em alguns momentos, mas por sorte não atrapalhou o espetáculo. A iluminação foi muito simples, de poucos tons. Eu senti falta de alguma coisa ali. Mas é um ponto de vista muito pessoal.

Bravo aos músicos e à toda a equipe por trás do espetáculo. É um número enorme de profissionais que trabalharam duro e essa dedicação fica clara quando o público levanta e aplaude de pé.

Chorei, refleti, saí de lá tão mexido que nem parei para dar um abraço na equipe do Mr. Zieg, a quem agradeço novamente pelo trabalho que o site faz. Parabéns.

domingo, 13 de novembro de 2011

Judy - O Fim do Arco-íris



Para mim, assistir um espetáculo com o selo Möeller e Botelho é garantia de que coisa boa vem pela frente. A qualidade do trabalho dessa dupla e sua equipe é de levantar o chapéu. Mas, eles nunca caem no fácil. A cada novo projeto eles mostram que estão prontos para a ousadia. Eu me pegava pensando: Avenida Q e seu politicamente incorreto vai assustar o público?; Gypsy, com referências tão americanas vai dar certo aqui?; José Mayer para o protagonista de Um Violinista no Telhado? E no fim cada peça era um sucesso maior que o outro.

Quando eles anunciaram a montagem de Judy - O Fim do Arco-íris no Brasil eu fiquei em polvorosa! Pesquisei e vi cenas da montagem em Londres. A atriz dava um show de performance. Que desafio de fazer um espetáculo digno de Miss Garland. E ainda tem o público que não a conhece ou reconhece a figura mas não conhece a história de vida dela.

Não faz mal. Peter Quilter escreveu uma peça bem amarrada, com personagens firmes no enredo e diálogos primorosos. As cenas de Judy são um turbilhão de emoções.

Igor Rickli faz Mickey Deans e defende o seu personagem enquanto muitos na plateia queriam vê-lo o mais longe possível de Judy. Ele nos tira de nosso lugar de julgadores e traz a dúvida. Talvez ele tenha feito por amor?

Gracindo Júnior foi a grande surpresa da noite. Não que seu talento e capacidade estivessem em questionamento. Mas não imaginei que num palco onde Judy Garland estivesse outro personagem poderia brilhar. O seu Anthony é lindo! A luz e a cor que a vida de Judy tanto precisava. O amor incondicional dos seus fãs estava ali naqueles gestos gentis, olhar sincero e taça de vinho tinto.

Claudia Netto. Seu nome deveria bastar. Escrever sobre a sua performance é difícil. Se usarmos todos os adjetivos que denominem a perfeição, ainda não seremos dignos de classificar o seu trabalho. Que entrega! Se jogar nessa cova dos leões é para quem pode. Interpretar Judy Garland não é tarefa fácil. E ela faz isso com uma força única. Seu corpo e sua voz desenham Dorothy, a Vicky Lester, a Hannah Brown ... a Frances Ethel Gumm. E sua redenção na canção final é a certeza de que estamos em frente a uma estrela (representada e representadora).

Charles Möeller e Claudio Botelho. Será que ainda há o que dizer sobre o que vocês fazem sobre um palco? Muito obrigado. É sempre um arrebatamento assistir ao que vocês fazem. E esse agradecimento vai também para toda a equipe de vocês. Cenógrafos, figurinistas, técnicos e aos músicos! Sempre de primeira qualidade e essenciais para o gênero.

E ficam os meus emocionado relato e fervorosa indicação. Siga a estrada de tijolos amarelos e corra para o Teatro Fashion Mall. Judy - O Fim do Arco-íris está em cartaz quinta às 18h – R$ 80,00 sexta às 21h30 – R$ 80,00 sábado às 21h, domingo às 20h – R$ 100,00 Temporada: 11 novembro de 2011 a 12 de fevereiro de 2012 Teatro Fashion Mall (21) 2422-9800/3322-2495, terça a domingo, das 15h às 20h.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um Violinista no Telhado


Ontem, quarta-feira, dia 18 de maio de 2011, assisti à pré-estreia de "Um Violinista no Telhado" no Teatro Oi Casa Grande.

O que vem das mãos da dupla Möeller/Botelho nós aprendemos a não temer. Só ansiar. Sempre que o anunciam o próximo trabalho, lá estou eu em busca de novidades; quase que diariamente. Saber que montariam "Um Violinista no Telhado" não foi diferente. Acompanhei cada informação, cada foto, cada boato, cada vídeo ... A data da estreia vinha chegando e meu coração batendo mais forte, ao ritmo da trilha de Jerry Bock e Sheldon Harnick.

Criei o hábito de me embeber da história de um musical antes de ir assistí-lo (até onde vão as minhas possibilidades, é claro): foi assim com Gypsy (ouvi as versões originais da Broadway, Londres e México, os revivals, assisti o filme com Rosalind Russel e o filme pra tv com Bette Midler, e por aí vai ...), com Nine (o filme de 2009) e tantos outros.
Com "Um Violinista ..." não poderia ser de outra maneira: reassisti o filme que já tinha assistido tantas vezes, busquei tudo o que pude sobre ele, li nos livros sobre a Broadway que tenho ... fui imergindo na belíssima história e na música que traz esse espetáculo.

E eis que sou abençoado por estar no lugar certo e na hora certa e ganho um ingresso para assistir à pré-estreia de "Um Violinista no Telhado". Ter a oportunidade de fazer parte da primeira plateia foi uma emoção à parte.

Pois bem, o que é José Mayer, gente? Como Tevye (seu personagem no musical) diz que vivendo na tradição o homem sabe quem é o que Deus espera que ele faça, Zé Mayer sabe quem é e o que o público espera que ele faça. O ator domina o palco e o público com toque de mestre. Somos o seu Deus e os seus fiéis. Inegável dizer que para o grande público a escolha dele para protagonista de um musical gerou surpresa. Mas que bela surpresa! Uma voz belíssima!

Soraya Ravenle compõe a sua Golda com uma verdade que nos faz amá-la e compreendê-la mesmo quando não concordamos com os seus posicionamentos. As meninas que fazem as três filhas mais velhas estão lindamente interpretadas por Rachel Rennhack, Malu Rodrigues (uma das vozes mais lindas do espetáculo) e Julia Bernat (que emociona com o seu olhar, vale a pena acompanhá-la em cena mesmo quando não faz parte da ação central).

Os outros atores (são mais de 40 em cena!) são de talento e profissionalismo indiscutível. Serei injusto com os outros mas irei destacar algumas alegrias particulares: Ada Chaseliov, Marya Bravo, Cristiana Pompeo e Kelzy Ecard. Mulheres que adoro ver no palco! E que show à parte é a cena do sonho de Tevye!!! Eu é que não me meto com Fruma Sarah ...

E para completar a fofolice da peça, que mimo o menino que fez o violinistinha!

Toda a equipe técnica está impecável: maquiagem, cenário, figurino, orquestra e efeitos especiais (UAU!).

As versões de Claudio Botelho traduzem todo o sentimento do espetáculo, em especial "Tradição", "Ah, Se Eu Fosse Rico", "O Sonho de Tevye", "Você Me Ama?", "Longe do Meu Lugar" e "Longe do Meu Lugar" ... ok ... todas, gente ... eu amo mesmo, fazer o quê?

A direção de Charles Möeller faz Anatevka parecer um lugar que todos conhecemos, mesmo que seja dentro de nós. E eu não queria mais sair de lá quando acabou. Lágrimas me acompanharam praticamente nas quase três horas de espetáculo. Passou tão rápido ... Mas meu trem partirá para essa vila muitas e muitas vezes. Voltarei à Anatevka quantas vezes eu puder!

Mas ... como nem tudo é perfeito, chegou a hora das ressalvas ... Fica a dica, produção do espetáculo: é ultra necessária a implantação de lenços de papel junto ao programa (que está lindo, aliás).

Mazel'Tov e corram para o teatro!